SANEAMENTO BÁSICO


Como um rei
Tatiana Nascimento

Dor de barriga não faz mal só a quem sente. Faz mal à produtividade das empresas do país. Quem diz é a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Trata Brasil, que divulgaram nesta semana a pesquisa Benefícios econômicos da expansão do saneamento básico. Segundo as contas feitas para o estudo, a cada ano, 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades e correr para o banheiro. Quando existe banheiro, claro.
Os problemas gastrointestinais destes trabalhadores são diretamente relacionados à falta de saneamento básico. Ou seja, se vivessem em um lugar com esgoto, não passariam pelo vexame de justificar a falta com um “chefe, desculpa, mas eu passei um dia de rei. Fiquei no trono”. De acordo com o levantamento, cada afastamento por diarréia resulta em 17 horas de trabalho perdidas, em média.
A pesquisa também traz o cálculo do prejuízo em dinheiro. Os técnicos consideraram o valor médio da hora de trabalho no país, que é de R$ 5,70, e chegaram ao seguinte número: R$ 238 milhões por ano em horas pagas e não trabalhadas. Isso também é ruim para o bolso do próprio trabalhador. Se tivesse acesso ao saneamento, ele poderia aumentar a produtividade (e a renda) em 13,3%.
O estudo destaca, ainda, que a probabilidade de uma pessoa que vive em uma residência com esgoto faltar ao trabalho por causa de dor de barriga é 19,2% menor do que uma pessoa sem acesso à rede. Outro dado impressionante do levantamento é que menos da metade dos brasileiros – apenas 43,5% – tem saneamento básico em suas moradias. Absurdo.
Obviamente, ninguém está imune a uma diarréia básica na vida. Mas os dados da pesquisa só reforçam o que todo mundo sabe: saneamento faz toda a diferença. Melhora a qualidade de vida, o trabalho, o orçamento. Pode não fazer sucesso entre os políticos. Reza a lenda que isso não rende voto, já que o esgoto fica embaixo da terra. Mas não é muito melhor embaixo do que à mostra?

Saneamento: é hora de investir!
Ranking da vergonha 
Edição de domingo, 3 de abril de 2011 

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2008, 891 milhões de pessoas espalhadas em 10 países não possuem vasos sanitários em suas residências. O Brasil ocupa o nono lugar nessa lista:
Pessoas sem vaso sanitário em casa
1º Índia - 638 milhões
2º Indonésia - 58 milhões
3º China - 50 milhões
4º Etiópia - 49 milhões
5º Paquistão - 48 milhões
6º Nigéria - 33 milhões
7º Sudão - 17 milhões
8º Nepal - 15 milhões
9º Brasil - 13 milhões
10º Niger - 12 milhões
Fonte: Instituto Trata Brasil, OMS/ UNICEF
Hora de investir em saneamento
http://www.diariodepernambuco.com.br/2011/04/03/brasil1_0.asp 
Levantamento indica que serão necessários R$ 70 bi para garantir o abastecimento de água até 2025.
Mais de 50% dos brasileiros não têm esgoto tratado.
Foto: Alcione Ferreira/ DP/D.A Press -21/03/2010
Brasília - O governo brasileiro festejou há poucos dias o salto de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010. Esse bom desempenho econômico elevou o país ao sétimo lugar entre as maiores economias do mundo. Entretanto, ainda permanece no triste ranking das 10 nações com o pior sistema de saneamento do planeta, algo que não condiz com a realidade de um Estado que pretende se igualar às maiores potências mundiais.

Apesar de o Brasil ter 12% de toda a água doce da Terra, o país ainda precisa investir R$ 70 bilhões para garantir o abastecimento do insumo até 2025. Desse valor, R$ 47,8 bilhões correspondem a recursos para o tratamento de esgoto e o restante, em infraestrutura - sem incluir os gastos com a distribuição.
 

O Sudeste, por ser mais populoso, demanda maior volume de investimentos em infraestrutura. “Os investimentos são necessários para não comprometer o fornecimento de água, e o Atlas será uma ferramenta para a sociedade cobrar as autoridades”, comenta o superintendente de Planejamento da ANA, Sérgio Ayrimoraes Soares.

Especialistas do setor, no entanto, falam em cifras bem maiores em saneamento para atender os 53% da população brasileira ainda sem esgoto tratado. Esse montante oscila entre R$ 120 bilhões e R$ 270 bilhões. “No ritmo atual, o país levará 60 anos para zerar esse déficit”, aponta o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos. “O Brasil ainda está no nono lugar do ranking da vergonha, com 13 milhões de pessoas sem ter onde fazer suas necessidades”, alerta.

O coordenador do Projeto Água da WWF Brasil, Samuel Barreto, lembra que o ritmo dos investimentos do governo brasileiro está aquém do necessário para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e reduzir o índice de mortes de doenças provocadas por água contaminada. “Cada dólar investido em saneamento significa uma economia quatro vezes maior em saúde”, destaca. (Rosana Hessel e Ana Elisa Santana)