Entre o litoral da Califórnia e o Havaí, uma área enorme ganhou um triste apelido: "Lixão do Pacífico". Levadas pela corrente marítima, toneladas e toneladas de sujeira, produzidas pelos seres humanos, se acumulam num lugar que já foi um paraíso.
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domingo, 4 de março de 2012
sexta-feira, 2 de março de 2012
AS NOVAS VÍTIMAS DO ALCOOLISMO
Laís Capistrano especial para o Diario urbana.pe@dabr.com.br
Recife, domingo, 26 de fevereiro de 2012
Mulheres e jovens. Esse é o novo perfil de dependentes que está procurando ajuda nos Alcoólicos Anônimos.
Um novo perfil de dependentes formado por mulheres e jovens passou a procurar ajuda nos grupos do Alcoólicos Anônimos (AA) no estado. Antes minoria, a presença feminina, em alguns grupos, já chega a ser igual a dos homens. Em geral, as mulheres começam a procurar tratamentos mais tardiamente, devido à não aceitação da doença. Paralelamente, são elas as presas mais fáceis em função de o corpo acumular 11% a menos de água, frente aos homens, o que favorece à dependência mais rápida do álcool. Outro fator preocupante, segundo médicos e especialistas, é a precocidade apresentada pelo novo público. A faixa etária que passou a pedir socorro no AA é de dependentes entre 18 e 25 anos, de ambos os sexos.
Segundo o médico endocrinologista e metabologista Edinário Lins, o sexo feminino dispõe de menos enzimas para oxigenar o etanol no organismo. “Cerca de 90% das bebidas alcoólicas ingeridas são metabolizadas pelo fígado. Quando há um consumo descontrolado da droga, alguns órgãos são prejudicados e até pode ocasionarar um câncer. Os tipos mais comumente associados ao alcoolismo são os de esôfago, estômago, pâncreas e fígado”.
A pré-disposição genética é um ponto importante a ser analisado, no entanto, outros fatores merecem igual atenção. “O contato com o álcool começa, para muitos dependentes, ainda na infância ou início da adolescência, o que proporciona o quadro vicioso tão cedo”, alerta o médico. Em dez anos, 130 novos grupos de apoio surgiram no estado. Hoje, são 450, a maioria na Região Metropolitana do Recife. Esse aumento significativo se dá pela procura crescente dos dois segmentos, segundo a coordenação da instituição em Pernambuco.
A dependência alcoólica ainda é vista sob uma ótica preconceituosa, o que dificulta o processo de recuperação dos dependentes. “Durante o tratamento, muitas vezes a chave para a recuperação do paciente está no apoio familiar. Em alguns casos, o trabalho realizado com família é mais intenso e duradouro do que com o próprio dependente”, explicou a psicóloga especialista em alcoolismo, Francinete Xavier Borba. Ela ressaltou que a displicência paterna, somada ao sentimento de autonomia da ala jovem, potencializam o surgimento da doença. E alcoolismo mata.Segundo a Organização Mundial de Saúde, o consumo excessivo de álcool é o 3º maior responsável pelas mortes no mundo. Embora não tenha cura, é possível controlar a enfermidade. A psicóloga aponta caminhos. “Para as mulheres, a recuperação é ainda mais dolorosa. Ela necessita do apoio de toda a família”. Em muitos casos, o estímulo para prosseguir no tratamento vem de membros de grupos de apoio, segundo as mulheres.
“O primeiro passo é evitar o primeiro gole”, aconselha o coordenador do AA no estado, R.J. A maioria dos alcoólicos que procura apoio em grupos diz conseguir resultados mais satisfatórios no combate à doença.Ele ressaltou que a instituição registrou um aumento de quase 300% no número de ligações nos últimos anos. E qualquer pessoa pode ligar para o 3221-3592 ou mandar um e-mail para ctorecifeesl@areapeaa.org.br e saber onde procurar ajuda. O anonimato é garantido.
Relatos de dramas pessoais
"A bebida atrapalhava minha profissão"
"Comecei a perceber que não tinha mais controle sobre a bebida. Saía nos finais de semana com algumas amigas, acabava me envolvendo em confusões e depois não me lembrava de nada.Essa dependência estava me prejudicando no trabalho. Meus colegas e chefe sentiam cheiro de bebida. Me atrasava todas as segundas por causa da ressaca. Sabia que aquilo me fazia mal, só não conseguia dar uma basta. Aos 17 anos, tomei minha primeira dose por influência de umas amigas. Havia me mudado, era novata no prédio. Gradativamente fui ficando resistente ao álcool, queria sempre mais. Bati o carro inúmeras vezes, me envolvi em acidentes muito graves, fiquei hospitalizada, já fui presa por brigar com policiais. Uma vez, conversando com um amigo, falei da situação. O admirava porque ele tinha problemas de alcoolismo e há quase dez anos havia controlado a doença. Foi ele o divisor de águas na minha vida.Esse amigo me convidou para participar de uma reunião do AA no mesmo grupo em que ele frequentava. No encontro descobri que era uma alcoólica. Desde então, já se passaram dois meses e vou a todas as reuniões. Na minha casa, minha mãe sempre se desesperava. Meu pai faleceu de AVC, por causa da bebida, e ela tinha medo que eu seguisse o mesmo caminho. Reconquistei a confiança dela. Estou me recuperando e quero continuar me sentindo assim". Diário de: T. Mulher, 26 anos
"Achei que podia beber pois era jovem"
"Tenho 20 anos e sou um alcoólico. No começo pensei que era uma fase. Procurava justificativas para minhas atitudes jogando a culpa nos meus pais. Desandei nos estudos, meus amigos se afastaram de mim e tive muitos problemas em casa. Hoje sei que sou portador de uma doença. Estava com 13 anos quando comecei a beber em companhia de alguns amigos. Primeiro em algumas festas, depois todo mês e, aos 15 anos, saía das aulas todas às sextas-feiras para ir a barzinhos. Urinava na cama e tinha apagamentos. Minha mãe se desesperava, me aconselhava. Fui morar com meu pai porque ela já não me aguentava mais em casa. Fui detido oito vezes e atropelei uma pessoa, tudo sob o efeito da bebida. Minha família me levou a psiquiatras conceituados, cheguei a ser internado, mas ninguém conseguia diagnosticar a doença. Tomava vários remédios por dia e vivia como um zumbi. Em um momento como este, o que ele mais precisa é do apoio da família. Primeiro tentar conscientizar o jovem de que a bebida está fazendo mal. Depois, mostrá-lo um caminho para a recuperação. Quem conversou comigo sobre a importância de participar dos grupos de apoio foi uma tia, que também é alcoólica. No início não queria me enxergar como um. Há quase três anos, controlei a doença, retomei a faculdade, trabalho, faço exercícios, mergulho e pesco. Reconquistei a confiança da minha família". Diário de: V. Homem, 20 anos
"A bebida me deixava promíscua"
"Quando bebia, me transformava em uma pessoa completamente diferente. Fiz coisas que jamais faria sóbria, fiquei com rapazes e depois não me lembrava de nada. A bebida deixa as pessoas mais promíscuas. Tinha apagamentos e quando acordava minhas amigas me diziam o que eu tinha feito. Sempre achava que bebia porque era uma mulher extrovertida e com muitos amigos.Tive muita dificuldade para perceber meu descontrole. Já deixei meus filhos doentes em casa enquanto ia à praia com os amigos.Passávamos a noite inteira tomando cerveja e, de manhã, quando voltava para casa, me sentia muito mal por ter feito tudo aquilo. Minha mãe me comparava com meu pai e irmão, que também apresentavam o problema. O fato de ter pré-disposição genética para a doença me deixava irritada. O meu maior desafio para aceitar que estava doente, consequentemente procurar ajuda, foi o preconceito por ser mulher alcoólica aos 35 anos. Tive três filhos em relacionamentos que não deram certo. Só consegui refazer meus planos de vida quando comecei a frequentar as reuniões em grupo. Ainda preciso de psicanalistas e psiquiatras, mas já consigo visualizar um futuro melhor para meus filhos. Quero cuidar deles, fazer meu mestrado e procurar um emprego.Eu acho que se uma mulher está na dúvida se é alcoólica ou não, isto já é um motivo para procurar um grupo de apoio". Diário de: R. Mulher, 38 anos
"Uma mãe nunca abandona o seu filho"
"Eu não reconhecia mais meu filho, afirmou C.L., mãe de um jovem dependente alcoólico, de 20 anos. Aos 18 anos ele procurou ajuda no AA. Tinha começado a beber muito jovem, aos 12 anos, escondido, na casa de amigos. Aos 15 anos já estava dependente. Segundo a mãe do jovem, que hoje cursa administração, o filho sempre foi maravilhoso, mas se transformava em outra pessoa quando estava sob efeito do álcool. "Era difícil ver o meu menino fazendo tantas coisas horríveis. Ele chegou a bater com o carro e a ser detido no trânsito por embriaguez. A mãe conta que sentia-se culpada, até se informar sobre a doença. Ela começou a participar de grupos de apoio à familiares e o convenceu a iniciar um tratamento. Foi uma fase difícil, conversei muito com ele, o alertava sobre a educação que ele recebeu, o futuro que ele estaria colocando a perder se continuasse bebendo e todos os males que aquilo estava lhe causando. Alguns amigos podem se afastar, namorada ou até mesmo esposa, mas a mãe nunca abandona, diz. Para a maioria das famílias a percepção da doença é algo difícil. No entanto, sem o apoio necessário para a recuperação do doente, os tratamentos utilizados podem ser ineficazes. Na minha casa, todos nós evitamos ingerir bebida alcoólica. É um ato de respeito ao meu pai, avô do jovem, que sofre com o problema, mas também uma forma de fortalecê-lo em sua batalha diária", relata,Diário de uma mãe.
"O alcoolismo não escolhe classe social, cor, profissão, idade e nem sexo"
As pessoas não desconfiam que uma senhora da minha idade seja uma alcoólica. Durante muitos anos minha família sofreu, principalmente a minha filha. A sociedade entende por alcoólico um homem pobre e doente. Essa ideia é errada. O alcoolismo não escolhe classe social, cor, profissão, idade e nem sexo. É uma doença preconceituosa e por isso não conseguia me ver assim. Sempre fui recatada e tímida, não frequentava bares, só tomava vinho em casa em finais de semana com meu marido. Mas com o tempo, as taças foram aumentando.Certa vez, quando minha filha tinha 15 anos, explodi o fogão de casa, logo depois tive um apagamento. Só procurei ajuda quando vi que estava no meu limite.Um dia eu escutei os conselhos de um irmão, que também é alcoólico.Até então eu sempre me aborrecia com as palavras dele. Caí em mim, entrei no AA. Ainda sinto vontade de beber, mas minhas razões para parar são ainda maiores”. Diário de: M.E. Mulher, 54 anos.Entrevista: Francinete Xavier Borba
Quais as razões que levam tantos jovens e mulheres ao alcoolismo?
Os jovens estão bebendo mais cedo. Eles se sentem mais poderosos e desinibidos. Em alguns casos falta limites por parte dos pais, muitos deles confundem liberdade com liberação e permitem que crianças experimentem bebidas alcoólicas. Consequentemente, essa parcela está exposta a ficar dependente mais cedo. Já entre as mulheres, existe a busca pela igualdade entre os sexos. Nesse contexto, elas compreendem que a liberdade passa pela bebida. O álcool pode ser porta de entrada para outras drogas.
A família pode colaborar?
De modo geral, as mulheres alcoólicas têm um perfil semelhante. Elas são muito inteligentes, sensíveis, e se sentem frustradas por não preencherem um determinado espaço vazio na vida. E por algum motivo elas supervalorizam a bebida. Quando se é jovem, esse fator emocional está fundido com a necessidade de se integrar aos grupos de amigos. Cabe à família da mulher, assim como a do jovem, ressaltar sua autoestima, demonstrar apoio, afeição e acolhimento.
A falta de informações sobre a doença pode ser a causa para o repúdio das pessoas?
Eu costumo dizer que o alcoolismo é a doença do preconceito, da negação e da hipocrisia. A sociedade repudia, no entanto partilha das mesmas práticas. A doença muda o comportamento das pessoas. Não é raro um dependente ser confundido com um mau caráter. Alcoolismo é uma doença que alcança todas as classes sociais e faixas etárias. Não existe cura, mas o portador pode ser tratado desde cedo.
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